Por Adenildo Bezerra, professor e escritor arariense
Arari sempre foi um município fomentador de cultura em várias de suas nuances: literatura, nossa terra é celeiro de escritores; magistério, diga-se de passagem que, ensinar é uma arte, é um ofício cultural também, e, devido ao fato de Arari possuir, por vários anos, uma Escola de Ensino Normal, contamos com uma expressiva quantidade de professores, sendo que, a maioria, atua nas salas de aula de escolas públicas e privadas locais e de outras cidades pelo país afora; artesanato, música, teatro, artes plásticas e cultura popular tradicional como o bumba-meu-boi; danças de roda como o tambor de crioula, dança do coco, terecô, baile de São Gonçalo, além de outras manifestações como capoeira, dança cigana e dança portuguesa… Ao longo de nossa existência sempre tivemos ararienses dedicados à cultura e comprometidos com as Artes.
Bem, diante de todo esse potencial artístico-folclórico-cultural, infelizmente, ao longo do tempo, toda essa efervescência vem se perdendo. Ouve-se dos produtores culturais relatos de que, de fato, vive-se num marasmo preocupante. Eles reclamam sobretudo da falta de apoio do poder público, da descaracterização das festividades juninas, onde a falta de incentivo às manifestações prejudica a continuidade das iniciativas. Agora, com a pandemia do novo coronavírus, a situação dos fomentadores de cultura ararienses, piorou. Reclamam, uníssono, do esquecimento das políticas públicas, como o auxílio emergencial, para a categoria. Alguns artistas populares reclamam, também, da falta de união da classe artística, onde impera muito individualismo.
Mas, continuando com o enfoque sobre o potencial cultural arariense, se fizermos um passeio pela nossa história de mais de dois séculos de existência, descobriremos nomes de inestimáveis valores culturais, tanto no âmbito local, quanto no âmbito estadual e nacional. A maioria gente simples que procurara perpetuar os saberes populares em seu meio. De Lourenço da Cruz Bogéa a Manoel Abas; De Silvestre Fernandes a Padre Brandt; De José Martins e Zezeca Perone a Zeca Baleiro; de Cléber Ribeiro Fernandes a Bill de Jesus; de Chiquita Bogéa a Teresa Garcia; de Silvino Gomes a Camilo Cordeiro; de Zequinha Brito a Samara Volpony; de Zuleide Bogéa a Edna Bezerra; de Gal Santos a Roberth Francklin; de José Fernandes a Pedro Neto… tivemos e temos inúmeros baluartes da cultura, que, a seu modo, sempre tiveram e têm como objetivos principais elevar a nossa alvissareira e nobre terra do Arari ao Panteão artístico-cultural maranhense e brasileiro. Isso mostra a força e a amplitude da cultura de Arari. As artes, a cultura, enfim, são vertentes diversas e o arariense possui uma verve cultural intensa.
Perdoe-me a redundância, mas, às vezes, é necessária. Desse modo, há ararienses talentosos desenvolvendo e encantando públicos diversos com suas habilidades artísticas. Em cada uma das vertentes da cultura tivemos, temos e teremos gente nascida em Arari fazendo arte. A cultura é dinâmica. Nosso Arari sempre foi e continuará sendo um município diferenciado no Estado do Maranhão no tocante aos aspectos culturais. Há em nossa gleba uma efervescência cultural latente.
Hoje, com o advento e expansão das redes sociais e das mídias digitais, novos estilos artísticos ganharam notoriedade. Nas plataformas como tic toc e Instagram, sobretudo, danças de rua, desenhos realistas, fotografias, performances, memes, reels e vídeos diversos garantem entretenimento do público. Artistas, digamos, digitais, como Rômulo e Rodrigo Fernandes, Itevalda, Pedro Emanuel, Aquiel Mendes, Thamires Sousa, dentre outros, apresentam sua arte com muita desenvoltura. Outra categoria profissional que ganhou notoriedade foi a dos fotógrafos da cidade. Há várias páginas que apresentam belas fotos, livres ou profissionais. Dentre esses citamos: Gleyce Magalhães, Ademir Moraes, Karlison Fernandes, Paulinho Fernandes e Romário de Kássio (página Arari Imagens). Vários ararienses postam conteúdos satíricos, dentre estes o “Melancitou” é uma das mais influentes. Tendo as plataformas digitais como grande palco, além desses artistas citados acima, cantores locais fazem apresentações com vídeos gravados ou com lives. A pandemia impactou fortemente a cultura. Porém, os artistas não pararam de fazer arte-cultura. Assim, no aspecto cultural digital Arari tem se sobressaído. Haja vista que até prêmio já existe para esse tipo de conteúdo. Por exemplo, a página Arari na Web realiza, anualmente, um evento de reconhecimento público para esse tipo artístico-cultural.
Antes da pandemia, continuamente, a expressividade cultural de Arari sempre nos causou orgulho. Citando-as: lançamentos de livros, em média, dois por ano. Poucas cidades do Maranhão possuem tantos escritores quanto Arari. A pandemia, de certa forma, foi um mote para a produção literária. Isso devido ao isolamento e à quarentena, com a obrigatoriedade de ficar em casa, para aliviar as tensões causadas pelo momento, a literatura tornou-se uma alternativa salutar e ativou, sobremaneira, a intelectualidade dos escritores.
Outras iniciativas sempre aconteceram em Arari; saraus; corredores culturais, com apresentações folclóricas, promovidas em bairros da cidade ou nas escolas. Arari tem o privilégio de possuir importantes instituições culturais como a Academia Arariense de Letras Artes e Ciências – ALAC – o Instituto Histórico e Geográfico, o Instituto Perone e Companhias de dança. Não conheço outro município com estas prerrogativas culturais. Temos festejos populares tradicionais e religiosos. Não é demais frisar que os festejos seculares de Nossa Senhora da Graça e de Bom Jesus dos Aflitos são, atualmente, patrimônios imateriais do Maranhão. Temos Morada da Artes, memorial com acervo histórico sobre Pe. Brandt, movimentos artísticos que transformaram as nossas praças em “Palcos Abertos”. Temos um povo criativo, que sabe fazer cultura e desenvolver as Artes.
Outro potencial grandioso que temos em Arari são as bibliotecas. Chagamos a possuir quatro, com um excelente acervo literário. Agora, é triste saber que hoje temos somente uma funcionando, em um prédio alugado e sem desenvolver iniciativas de leitura e oficinas de produção textual, por exemplo. O Farol do Saber há anos vive fechado. Parece que será reformado, tomara! A biblioteca Justina Fernandes, que pertencia à Associação da Doutrina Cristã -ADC – acredito que não está mais efetivada. A biblioteca do SESI, que estava vinculada à Fundação Cultural de Arari, também está inativa. Talvez, quero crer que não, devido ao aparato tecnológico, consideraram as bibliotecas não mais adequadas para os novos tempos pós-modernos. Reitero, acredito que não seja esse o motivo. Contudo, ver que um grande patrimônio vem sendo perdido e deixado de lado, causa-me tristeza! Fica, aqui, neste singelo texto, o apelo para que as bibliotecas se transformem em catedrais vivas e promovendo atividades de leitura e escrita com afinco. O poder público local tem tudo a ver com isso. É dever incentivar a leitura e a escrita também nas bibliotecas, e não apenas da escola.
No aspecto patrimonial público, sobretudo arquitetônico, Arari possuiu os seus. Hoje existem alguns que ainda se mantêm de pé. Inclusive, no tocante à preservação da memória cultural-patrimonial da cidade, tivemos muitas perdas. Nosso rico patrimônio material ou foi destruído ou foi descaracterizado. Não irei, aqui, neste artigo, citá-los, mas fica registrado a necessidade de cuidar dessa potencialidade.
Por que é importante preservar o patrimônio material e imaterial? É sabido, desde sempre, e reforçada atualmente, que a cultura e a história de um determinado povo, identidade coletiva, abrange muito mais do que a sua arquitetura (para citar a obra mais conhecida considerando o instituto do tombamento) e monumentos históricos, se destacando também o folclore, as tradições, a língua, a dança, as festas típicas, os pratos típicos, etc.
Obviamente, a não proteção destes bens culturais imateriais põe em perigo a história e a cultura de uma região, de uma comunidade, de uma crença, sendo dever do Estado criar mecanismos para proteger, fiscalizar, educar coletiva e permanentemente (mapeamento e inventário de referências culturais, registro e ação de salvaguarda), sob pena do seu sumidouro, se escoando e se enterrando na memória da omissão.
O escopo primordial deste texto foi evidenciar o potencial cultural, artístico e patrimonial diversificado de Arari. Mostrar o quanto nós, ararienses, temos um engajamento com as artes e com a cultura forte. Tenho orgulho de ter nascido neste chão irrigado pelo Mearim e rodeado por belos campos. Nosso potencial vai muito além da cultura, das artes e da geografia, porque somos um povo plural. Pluralidade que merece maior zelo e incentivo.