Cerca de 300 pessoas participaram do protesto, envolvendo 5 comunidades da zona rural de Arari (MA). Cobravam da mineradora Vale travessia segura para não permanecerem isolados.
Na manhã da Segunda-feira (7), cinco comunidades da zona rural de Arari (MA) interditaram por 9h, a Estrada de Ferro Carajás (EFC) em protesto à falta de travessia segura. Os moradores alegam que estão ficando isolados com o processo de duplicação da ferrovia. Há registros de pelo menos 2 acidentes neste perímetro da ferrovia, que resultou na morte de 1 pessoa. Além da insegurança as comunidades reclamam ainda do constante estacionamento do trem de carga que impede os moradores de chegarem ao seu destino.
A moradora da comunidade de Capim Açu, Jeisiele Oliveira, descreve a insegurança que convive ao fazer a travessia todos os dias. “Na minha família já tivemos dois casos de atropelamento pelo trem que resultou em morte. Recentemente, teve outro acidente com uma família que, por sorte, conseguiu sair do carro antes que este fosse atingido pelo trem.”, explicou.
Entre as reivindicações da comunidade estava a construção de 5 KM de estrada e 3 pontes para interligar as comunidades de Laranjeira Campo do Carmo I e II, Capim Açu e Barbados. Atualmente para chegarem até suas comunidades ou ter acesso à rodovia os moradores atravessam duas vezes a ferrovia, com a construção da estrada e das pontes, isso seria evitado, promovendo uma segurança maior para chegarem ao seu destino
De acordo com o Vereador de Arari, Raimundo do Hospital, que acompanha as comunidades, foram encaminhados vários ofícios à mineradora Vale, porém as comunidades não foram atendidas. “Nós só estamos tentando garantir nosso direito de ir e vir e que a Vale possa nos proporcionar esse direito e ter um viaduto. Na comunidade de Barbados, as pessoas têm que passar por debaixo do trem pois o mesmo fica parado, isso com uma via, imagine com duas, vai ficar muito difícil”, criticou.
A EFC está sendo duplicada, e transita nela um dos maiores trens de carga em operação regular do mundo, com 330 vagões e 3,3 quilômetros de extensão, quando estacionado nos perímetros habitados os moradores não encontram outras alternativas a não ser passar por baixo do trem, uma opção muito perigosa e que já fez várias vítimas. A pretensão da mineradora Vale, que tem a concessão da ferrovia, é que com a finalização das obras para duplicação prevista para o final de 2017, transitem diariamente 27 pares de trens por dia com intervalo de 27,3 min em média.
Também esteve presente na ocupação o Defensor Público Vinícius Renan Brandão, que prestou assessoria às comunidades. “A ocupação da via ferroviária não pode ser vista como ato ilegal suscetível de penalidade, senão como manifestação legítima e necessária de proteção de seus direitos e interesses indevidamente violados. Nesse contexto, a atuação da Defensoria Pública consiste na intermediação de um diálogo continuo com a comunidade afetada e a Vale, além da própria municipalidade no âmbito de sua competência, a fim de traçar uma atuação estratégica, visando, sobretudo, a resolução extrajudicial do conflito, além de vistorias constantes no local e cobranças das medidas propostas”, completou.
Segundo os moradores, representantes da Mineradora Vale estiveram na ocupação para negociar a interdição, porém, somente apresentaram a proposta de um estudo técnico para as travessias, sem garantias de execução, o que foi rejeitado pela comunidade. Após 9h de interdição, a empresa e o prefeito de Arari, Djalma Melo Assinaram um documento proposto pelas comunidades comprometendo-se em fazer 5Km de estrada e 3 pontes, sendo que os trilhos que serão usados na construção serão fornecidos pela Vale S.A.
Insegurança na ferrovia
No dia 28 de janeiro de 2017, no mesmo local que ocorreu o protesto, no Km 135 da ferrovia, uma família que estava fazendo a travessia em um automóvel ficou atolado em um amontoado de terra depositado na passagem de nível durante as obras de duplicação, o casal e uma criança de 6 anos foram surpreendidos pelo trem e felizmente conseguiram sair a tempo da colisão, que deixou o veículo destruído. Um grupo de resgate, chegou a ser acionado pela empresa, que chegou cerca de 15 após o ocorrido.
Outro acidente já havia ocorrido dentro do perímetro das obras da ferrovia, em setembro de 2016. Ao tentar fazer a travessia em uma motocicleta um homem de aproximadamente 30 anos caiu em um vão entre os trilhos e um bueiro. No local não existia iluminação e a vegetação encobria os buracos na via.
Por Lidiane Ferraz, Justiça nos trilho