Um rio, um mar, uma onda. Essa energia gerada pelo encontro das duas águas chama-se Pororoca. Foi batizada pelos índios assim no passado e há tempos pode ser chamada também de “paraíso” para surfistas de todo o planeta. Existem poucas no mundo. Tem na França, na Índia, na China, Na Inglaterra e, claro, no Brasil. Por aqui ela se popularizou na Amazônia. Lá, tem fama de devastadora. É forte e por vezes perigosa.
Desbravar essa ondulação é sonho para qualquer surfista. Um deles, o recordista mundial, cearense Adilton Mariano, ficou durante 37 minutos em cima dela no Rio Araguari. Percorreu mais de 11,8 quilômetros sem descer da prancha. O surfe na Pororoca atrai aventureiros de todo o mundo. Europeus, então, nem se fala. Invadem a Amazônia em busca da experiência marcante e única.
É um fenômeno raro e, por isso, atraente. Muito atraente.
O bom de tudo isso, para nós maranhenses, é que, logo ali em Arari, nasce uma das Pororocas mais perfeitas, acessíveis e constantes do mundo. Da cabeceira do Rio Mearim, ela surge toda lua nova ou lua cheia, principalmente no primeiro semestre. Vem com força. Uma parede de onda com aproximadamente 1,5 metro assusta quem não está acostumado com o fenômeno. Surfistas atentos e preparados se posicionam em cima de bananas boats puxados por jet sky ou em lanchas. Aguardam a hora certa e pulam na frente da ondulação. Dali em diante fazem no rio o que o mar jamais poderia lhes proporcionar: uma onda quase sem fim, perfeita e estável.
A exploração
A Pororoca do Mearim sempre existiu. E é velha conhecida dos ribeirinhos da região. Começa num local apelidado de Paredão da Morte, ponto em que ela acumula mais energia. Dura aproximadamente 40 minutos entre a cabeceira até chegar, já sem força, ao leito do rio que circunda a cidade. Em algumas épocas, até invade casas à margem do rio.
A exploração para o surfe, porém, começou em 2001 após viagem de três maranhenses e um paraense. E se profissionalizou anos depois, com direito a competição e um festival de música que levou até o arariense Zeca Baleiro a fazer show por lá, ao lado da banda Tribo de Jah. Foi o ponto alto da Pororoca do Mearim. Outros tempos.
Esquecimento
Nos últimos cinco anos, porém, a onda simplesmente perdeu seu potencial atrativo. A Abraspo (Associação Brasileira de Surfe na Pororoca), tocada pelo paraense Noélio Sobrinho, não encontrou mais espaço nem apoio para realizar os eventos por aqui. Insistiu, desistiu e resolveu dar um tempo. Redirecionou a atenção às já consagradas Pororocas da Amazônia. Lá, embora os acessos sejam bem mais difíceis e os rios mais selvagens, ele encontra apoio privado e público.
“O governador do Pará (Simão Jatene) é um fã da Pororoca e nos apoia, com sensibilidade, valorizando esse fenômeno que é único e chama muita atenção para a nossa região”, comenta Sobrinho. “É importante ressaltar que esse é um fenômeno raro, que existem em poucas localidades do mundo. Atrai surfistas e TVs internacionais e grandes nomes do surfe nacional. Tem um potencial turístico muito grande”.
Noelio é um especialista em Pororoca. Já surfou quase todas existentes (mapeadas pelo homem) no mundo. E roda o planeta com a bandeira do fenômeno em riste, defendendo-o por onde passa e sempre tentando atrair mais gente para a causa.
Sua ligação com o Maranhão é antiga. Aqui já organizou dezenas de campeonatos de surfe, no mar e no rio. E busca preservar o elo entre os paraenses e os maranhenses. Como presidente da Abraspo, é o ‘agitador’ das ondas do Rio Mearim, ao lado do surfista Jerônimo Júnior, diretor da Federação Maranhense de Surfe (Femasurf), e outros atletas engajados. “Estamos voltando com força total”, avisa Jerônimo.
Ela está de volta
Neste ano, com a temporada de chuva, a cheia do Mearim tornou a levantar ondas de quase dois metros e tem atraído surfistas para lá quase toda lua. No último fim de semana mais de 30 deles se aventuraram. Vindos de São Luís, Belém e Rio de Janeiro. Portugueses foram levados por Noelio para conhecer o fenômeno, em março. É, segundo ele, a retomada da Pororoca do Mearim.
“A Abraspo está retomando o surfe da Pororoca de Arari após cinco anos parado. Mas não temos nenhum apoio, nem da Prefeitura do município e nem do Governo do Estado. O que fazemos é ainda por amor ao esporte e pela aventura. Acreditamos, porém, que esse é um projeto ainda vitorioso e queremos reativá-lo para dar a atenção que ele merece”, reclama.
Por enquanto, não há previsão de competições ou eventos oficiais. Mas a cada oportunidade novos atletas, profissionais ou amadores, se arriscam por lá. Em breve, segundo Noelio, uma equipe do Canal OFF, especialista em esportes radicais, gravará um programa em Arari. Provando, mais uma vez, que quem vem de fora dá mais valor a nossos potenciais do que nós mesmos.
Surfistas de Arari: um fenômeno social
Não só de surfistas “forasteiros” vive as ondas do Mearim. Os locais de Arari fazem a diferença. Estão sempre lá. Surfam sempre, quando ninguém os vê. A diferença é que eles não têm nenhum apoio e nenhuma estrutura. Não tem lanchas, nem bóias e, muitos, sequer têm pranchas.
Mas o desejo de surfar nas ondas do rio é tão forte que eles improvisam. Muitos arrancaram portas de geladeiras e as transformam em pranchas. Amarram barbantes aos pés e à “prancha” e remam até a onda.
“São verdadeiros guerreiros. E muitos motivados para o surfe. É nessas horas que entendemos, de fato, o que é ter dificuldade”, comentou Armando Henrique, surfista de São Luís que esteve lá no último fim de semana.
Sensibilizados, um grupo de surfistas de São Luís, incentivados pela Abraspo, doou quatro pranchas para os locais. “Nossa preocupação é também com o desenvolvimento social desses jovens. Uma fenômeno como esse numa cidade como Arari pode trazer diversos ganhos sociais e esportivos, além de um importante e seguro entretenimento para a juventude”, comenta Noélio.
Acesso fácil, chegada tranquila
A Pororoca do Mearim é uma das mais acessíveis do mundo. Saindo de São Luís, percorre-se 150 quilômetros pela BR-135 até Arari. Ali, o repouso é tranquilo em um dos hotéis da cidade, com quartos e café da manhã completos. Depois, de carro, segue até uma localidade chamada Curral da Igreja. É onde os carros param e é hora de pegar as lanchas e botes até a onda. A lancha sobre o rio durante pouco mais de 25 minutos. São 14 quilômetros até o Paredão da Morte. De lá até o retorno ao Curral da Igreja, são cerca de 40 minutos de aventura e uma experiência única. informações oimparcial
Parabéns a Djalma por não patrocinar e investir o recurso em outras áreas, no período de Leão esse pessoal vinha para se divertir com o hotel pago pela prefeitura, davam um pega nas gatas de Arari e iam embora rindo e com dinheiro no bolso.