Por Alex Correa
No futebol, as pessoas torcem por um time.
Mas não se resume a torcer por um time. Os torcedores provocam e zoam da derrota do time adversário.
As vezes, a derrota do adversário é mais comemorada que a viitória do próprio time.
E no futebol, na frente da telinha, nas arquibancadas ou num barzinho, todo mundo se sente um pouco técnico: sugerem e opinam sobre as escalações, estratégias de jogo, substituições…
Na política também existe um pouco desse comportamento.
Muitas pessoas, sem qualquer coerência e lucidez política e ideológica visível, parecem escolher um candidato e simplesmente torcem por ele.
Mas parece não ser suficiente “torcer”/votar para esse candidato, elas querem provocar, zoar da derrota do candidato/eleitor adversário.
E, como os pseudo técnicos no futebol, todos se sentem especialistas em política, esbravejam em posts seus gritos de torcida frenéticos em prol ou preterindo este ou aquele candidato ou partido.
Sim, “gritos de torcida”.
É o que me fazem lembrar certas publicações.
Nas redes sociais impera um comportamento bizarro de torcida, a paixão quase cega, as provocações e zoações contra candidatos e eleitores adversários chega a um limite que às vezes se assemelha à irracionalidade dos hooligans ou torcidas organizadas brasileiras. Nas massificadas postagens e discussões são muito mais visíveis egos em busca de autoafirmação, provocações, agressões e chacotas do que a qualidade dos argumentos que tentam suscitar em prol de uma ideia.
Lembro de uma citação de Chomsky: “A população geral não sabe o que esta acontecendo, e eles nem sequer sabem que não sabem.”
Ora, a política é uma ciência.
E como tal, é um campo do conhecimento e de atuação, tem suas regras, suas leis, que definem o andar do jogo, não facilmente compreensíveis e aceitáveis por nós, cidadãos comuns, em parte leigos. No caso da sociedade e política brasileiras, cada reviravolta nos acontecimentos a que nos submetemos, vemos que o velho Chomsky tem razão.
Acontece que, pro bem e pro mal, as redes sociais deram voz a todos. Deu voz para aquele cientista político, para aquele intelectual que lê, para aquele jovem que estuda e faz militância, para aquela pessoa que observa, participa e contribui com a qualidade do bom debate típico da boa democracia. Infelizmente, deu voz também para aquele tolo que, também tal qual no futebol, com um smartphone na mão e o traseiro acomodado, opina como um técnico, quer dissertar sobre cada evento, cada fato como um cientista e, mais do que debater e informar, espalha ideias torpes e confusas, mentiras e picuinhas em redes sociais que em nada engrandecem o espírito democrático.
Leigos quando se arriscam a manifestar sobre temáticas que não estudaram ou sobre uma área que não é de sua atuação sempre correrão maiores riscos de cometer certos equívocos. Mas a crítica à qual me refiro neste post se refere não exatamente ao conteúdo do que se posta, mas a uma maneira específica de como se posta e se manifesta.
Esse tipo de comportamento de torcida já existia antes da internet, mas ficou mais visível com ela. Basta abrir qualquer rede social para que o torcidômetro político eleitoral seja bem visível. E não precisa ter olho apurado, apenas bom senso.
Existe durante todo o ano, mas exacerba-se no período eleitoral. Até o dia do pleito e apuração dos votos, penso que um clima quase insuportável vai efervescer e continuar predominando nesse sentido. Chega a ser abominável como algumas ideias são manifestadas.
São acompanhadas de expressões como: “É desespero!”, “Eles estão com medo!”, “chora que dói menos”, “chupa, fulanos!”, “já perdeu”, “o barco deles vai afundar”… e expressões do gênero que são quase sempre vinculadas de posts com qualidade medíocre, noticias sensacionalista e de fake news.
O que esse tipo de eleitor internauta quer, de fato?
Discutir ?
Educar?
Informar?
Conscientizar?
Orientar?
Convencer?
Não!
Ele quer dizer “eu vou ganhar!”, “você vai perder”, “eu sei votar melhor que você”…
Ele quer zombar, provocar …
Não é aquele eleitor consciente que usa a net para divulgar e discutir temas e propostas com fundamento, com seriedade e equilíbrio
É um jogo que combina mais realização de alter ego e autoafirmacão do que participação política é cidadã.
Me faz lembrar alguns elementos de Bertold Brecht em O analfabeto político.
É preciso desconstruir esse comportamento. Primeiro porque não parte do sentimento genuíno que deve reger a política e, em consequência, é contraproducente e não é saudável ao espírito democrático.
Isso nos exigirá um certo cuidado. Precisamos sim participar do espírito democrático difundindo o bom debate em prol do bem comum, sem que nos nos indisponhamos ao ponto de estragar nossas relações de amizade e afeto.
É um exercício de tolerância, de autodomínio, de empatia, nem sempre fácil, mas importante e possível.
Daqui para o dia das eleições, acompanhado os fatos políticos históricos e bastidores atuais, precisamos discutir ideias, propostas, e apontarmos que rumos podem ser tomados de maneira mais satisfatória para este país.
Vamos decidir se fazemos isso discutindo de forma fundamentada, lúcida, equilibrada e respeitosa ou se, permanecendo apenas nos bastidores das arquibancadas das redes sociais. seremos patéticos torcedores eleitores para quem, mais importante do que discutir as mazelas sofridas pelo país e os rumos que precisam ser tomados, é comemorar a vitória de nosso candidato e zoar da derrota do eleitor/candidato oponente.
[11:49, 13/9/2018] Alex Correa: Pronto