As organizações educativas não-escolares no Brasil têm encarado múltiplos desafios no cenário da pandemia de Covid-19. Com atuações extensas que, frequentemente, dão conta de construir pontes intersetoriais, elas são muitas vezes as responsáveis por articular diferentes agentes com a comunidade local e encaminhar questões específicas de seus territórios como acesso à alimentação escolar, apoio pedagógico aos alunos e famílias e, até mesmo, medidas que garantam a proteção de todos em casa.
A Estação do Conhecimento de Arari, no município homônimo do Maranhão, atende 31 comunidades da região, recebendo mais de 500 crianças e jovens no turno complementar à escola com oficinas que integram eixos como esporte, multiletramento e cultura. Com a suspensão do atendimento presencial em meados de março, um dos desafios que a unidade teve que enfrentar foi o fato de que apenas 57% das famílias dispunham de redes sociais como o Whatsapp.
A solução foi aproveitar a logística que já havia sido estruturada para a distribuição de alimentos na região. “Como estamos entregando mensalmente um kit de suplementos alimentares, encaminhamos junto um caderno de práticas pedagógicas contendo brincadeiras e jogos com intencionalidade pedagógica que se relacionam com a tradição e cultura local e que se aplicam tanto ao público de crianças como adolescentes, além de envolverem as famílias”, Segundo Pedro Carlos Verde Filho, diretor da EC Arari.
Em paralelo, a organização produziu vídeos, podcasts e outras peças digitais para veicular via whatsapp e no site da instituição. “É um momento difícil, no qual muitos direitos das crianças e mulheres estão sendo ameaçados. Sabemos que estar na escola e na Estação é uma forma de proteção contra o abuso, a violência. Então temos trabalhado também o empoderamento por meio da proposição e operacionalização de ações no Fórum do Direito das Crianças e do Adolescentes onde a Estação do Conhecimento tem assento”, relata Pedro.
Além desses encaminhamentos, a organização firmou uma parceria com a rede municipal de ensino para elaborar conjuntamente o caderno de práticas pedagógicas de julho. “Vamos alcançar mais de 2 mil crianças dos anos iniciais. Estamos fugindo da visão conteudista, porque não adianta dar um livro didático para o jovem e falar “leia”, mas precisamos dar continuidade à garantia do direito de aprendizagem dessas crianças”, afirma Pedro.
Há 35 anos atuando na educação popular e no desenvolvimento comunitário a partir da cultura em diversos lugares do País, o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD) conta com os agentes que moram nas comunidades para dar continuidade ao trabalho mesmo que remotamente. Destes diálogos, apareceram várias necessidades das famílias como acesso à máscaras, produtos de limpeza e alimentos.
“Então começamos a organizar a distribuição desses itens. Os alimentos do Sítio Maravilha [Centro de Permacultura no Vale do Jequitinhonha], por exemplo, estão indo para essas casas. Além disso, os recursos digitais estão sendo utilizados como meios para estar em contato e envolver a comunidade. Todos os jogos e brinquedos construídos pelas crianças e jovens estão sendo sistematizados no nosso portal virtual por meio de oficinas, vídeos, etc”, Segundo o diretor Tião Rocha.
Paralelamente às ações de campo, o CPCD assumiu o papel de promover reflexões sobre a atual conjuntura e os debates já pautam como serão as formações dos projetos pós Covid-19. “Temos reuniões com os educadores para olhar como queremos ser no futuro. A gente percebe que não dá para fazer mais do mesmo. Nossas relações com a vida, com o planeta, com as pessoas precisam agora ser o centro da preocupação. Temos que interromper com essa lógica mercantilista, da exclusão como se a vida fosse uma corrida de obstáculos onde um tem que chegar primeiro que o outro. A vida não é para ser vencida, é para ser vivida. Então, no futuro, vamos refletir sobre isso nas nossas práticas, rodas e projetos”, arremata Tião. Com informações Movimento Inovação da Educação.