De acordo com dados de organizações internacionais, em 2019, quase 20% da população maranhense vivia com renda mensal abaixo de R$ 145.
Um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) demonstra o tamanho do desafio que governos e sociedade têm pela frente para tirar a população da pobreza, que foi aprofundada pela pandemia. Neste panorama da ONU, o Maranhão aparece como o Estado brasileiro que tem mais gente vivendo na miséria. Somado a isso, é também no Maranhão que nove de cada dez pessoas dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS).
A pobreza nas casas de muitos maranhenses não começou por causa da pandemia. Ela já existia e agora só piorou. De acordo com dados de organizações internacionais, em 2019, quase 20% da população maranhense vivia com renda mensal abaixo de R$ 145. Ou seja, com essa quantia, pais de famílias tinham de se dividir entre comida, higiene e material escolar. Um valor que dificilmente cobre o básico para a manutenção da vida de um ser humano.
O cenário é crítico. Foi isso que constatou um relatório inédito da Organização das Nações Unidas (ONU) que mostra que a pandemia agravou ainda mais a situação de desigualdade que existe no Maranhão há anos. O relatório foi elaborado por especialistas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, junto como outros órgãos e o Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
A chefe do escritório da Unicef em São Luís, Ofélia Silva, diz que existe uma relação direta entre pobreza social e com a chegada da pandemia s situação piorou consideravelmente. “Sabemos que existe uma relação direta entre pobreza, desigualdade, alta desigualdade, desigualdade continuada crônica, mudanças climáticas que afetam o mais pobres e recessão econômica. A pandemia agrava tudo isso. Nós sabemos que os resultados com relação a insegurança alimentar no Brasil se agravaram nos últimos anos”.
Maranhão é o Estado com mais pessoas vivendo na miséria, diz ONU — Foto: Reprodução/TV Mirante
Segundo o relatório da ONU, o Maranhão é o segundo Estado do país que mais depende do SUS. No Estado 93,1% da população precisa da saúde pública. O Estado tem também a menor taxa de médicos por habitantes. São 8,1 médicos para 10 mil habitantes. Segundo o secretário de Estado de Saúde, Carlos Lula, de 2011 a 2021 foi feita uma expansão da rede de saúde com mais de 30 hospitais, 15 regionais e 16 policlínicas para atender a demanda. “Nos últimos dois anos a gente teve uma piora desse quadro, não só no Maranhão mais também no Brasil inteiro, em decorrência da pandemia. De fato há um represamento de cirurgias, de exames, de consultas e a gente está tentando voltar em regime de mutirão, uma vez que a gente viveu aí nos últimos 17 meses a nossa rede hospitalar funcionando quase que, exclusivamente, em função da Covid-19 e as pessoas adoecem de outras coisas”.
Apesar da expansão, a vida de quem depende do serviço publico de saúde não é fácil. Na Central de Marcação de Consulta (Cemarc), em São Luís, a luta para conseguir atendimento com médicos especialistas ou exame começa no dia anterior. Muita gente dorme na fila pra pegar senha e isso nem sempre garante o atendimento. Como é o caso da professora Lenimar Jansen que conta que para conseguir marcar uma consulta é obrigada a acordar antes de amanhecer. “Eu já estou vindo da Santa Casa. Eu fiquei a semana todinha pra marcar um exame. Madruguei e chega na hora não tem porque o sistema cai toda hora”, desabafou a docente.
São pacientes como a do pai da babá Vanessa Silva que, teve um acidente vascular cerebral (AVC) e, está internado há quatro meses na unidade mista do bairro Bequimão, na capital, depois de passar por vários hospitais para achar uma vaga. A filha conta que tem medo porque o pai vai ser liberado ainda doente e a família não tem condições de arcar com o tratamento dele em casa. “Como é que eu vou fazer pra cuidar do meu pai doente em casa se é sou eu sozinha? Eu não sou médica, eu não sou enfermeira, não sou técnica”.
O sociólogo da Universidade Federal do Maranhão, Tadeu Gomes Teixeira, explica que esses dois problemas, a falta de renda e as fragilidades do serviço de saúde, ficaram ainda mais críticos com a pandemia. “Quando a gente olha para o Estado que tem aqui uma ausência de vínculos formais de trabalho e ao mesmo tempo uma diminuição nas atividades econômicas caracterizadas como informais no Estado evidentemente isso gerou aqui condições para o aumento da vulnerabilidade social, para o aumento da pobreza mesmo, até de condições mais difíceis para a população. Estes elementos articulados juntos eles precisam ser trabalhados pelo poder público de uma perspectiva bem integrada”, pontuou Tadeu Gomes. Com informações G1MA/ Foto: G1MA