Por Adenildo Bezerra
Nem sempre foi fácil ser torcedor em Arari. Antes dos gritos de gol ecoarem pelos quatro cantos, o futebol da cidade tinha sua casa em outro lugar. Até o início da década de 1980, o campo de futebol localizava-se exatamente onde hoje está erguido o Centro Educa Mais – o famoso CEMA. Naquele tempo, o estádio se chamava Santos Dumont, uma homenagem ao gênio brasileiro da aviação. Era ali que a paixão pelo futebol se materializava: nas arquibancadas improvisadas, nos domingos de sol, nos dribles desconcertantes e nos clássicos memoráveis entre os times da cidade.
Mas o tempo passou. E o município precisava de um espaço nobre para erguer uma grande escola. O então prefeito decidiu que o Santos Dumont seria desativado. No seu lugar, nasceria um educandário. A população, especialmente os desportistas, protestou. Afinal, mexer com futebol é mexer com o coração do povo. O prefeito, para acalmar os ânimos, prometeu: “Construiremos um estádio novo, maior e melhor”. A promessa, no entanto, virou lenda.
Aos poucos, a desconfiança cresceu. As crianças que sonhavam em ser jogadores começaram a ouvir que aquele novo estádio não passava de um “Mentirão” – um nome que carregava tanto ironia quanto tristeza. Anos se passaram até que um novo terreno fosse adquirido. Nele, construíram um Módulo Esportivo, com campo, quadra e até pista de atletismo. Mas, apesar da boa intenção, o local nunca conquistou o coração dos torcedores. Os grandes jogos continuavam acontecendo no tradicional Campo do Padre, lugar sagrado para os boleiros ararienses.
Com o tempo, o Módulo foi se desfazendo. Parte dele foi loteada. Bairros foram surgindo, engolindo o que deveria ser a nova casa do futebol. Restou apenas o campo. Mesmo assim, o Mentirão foi fechado. Por longos anos, ficou em silêncio, sem gritos de torcida, sem bola rolando.
Mais tarde, após uma reforma tímida, o estádio voltou a respirar. O Campeonato Arariense ressurgiu, reacendendo a paixão nas arquibancadas. O espaço ganhou um novo nome: Estádio Municipal Santos Figueiredo, em homenagem a um arariense ilustre e apaixonado pelo futebol. E Arari voltou a viver dias de glória. Pela manhã, à tarde e à noite, o campo era palco de peladas animadas, encontros de amigos, disputas emocionantes. A cidade voltava a sorrir com o futebol.
Mas a alegria durou pouco.
De novo, o estádio foi fechado. Mais uma vez, falaram em reformas. Projetos foram anunciados, recursos liberados, vistorias realizadas. Mas o Mentirão continuou no mesmo lugar, sem vida, sem alma, sem futebol. O tempo passou, e a promessa virou piada. Ou melhor: virou saudade.
Hoje, o povo de Arari continua acreditando. Porque quem ama futebol nunca desiste. Nossos jovens seguem sonhando em ser craques. Nossos veteranos relembram os tempos de ouro. E todos nós, de alguma forma, sentimos falta daquele espaço de integração, lazer e identidade. Um estádio não é só cimento e grama. É palco de sonhos, é ponto de encontro, é o coração de uma cidade.
Arari, terra de tantos talentos e histórias inesquecíveis no futebol maranhense, merece um estádio de verdade. Um espaço digno da sua tradição. Um lar para a paixão do seu povo.
E mesmo que um dia o tão sonhado estádio finalmente fique pronto, ele continuará sendo chamado com carinho e saudade de Mentirão. Porque, mais que um nome, ele representa uma luta. Uma esperança teimosa. Um amor que resiste.
Futebol é mais que um jogo. É cultura, é memória, é pertencimento. Que o Mentirão, enfim, se transforme em realidade. Arari merece esse gol.