G1 MA
De acordo com um relatório divulgado pela Comissão Pastoral da Terra, mais de 100 pessoas estão ameaçadas de morte no Maranhão por conta de conflitos agrários. Entre os grupos mais ameaçados estão os indígenas, comunidades quilombolas e pela primeira vez, as quebradeiras de coco entraram para as estatísticas. Atualmente, seis mulheres localizadas no estado se encontram ameaçadas de morte.
Em todo o país, foram 226 pessoas ameaçadas de morte e quase metade delas estão localizadas no estado. De acordo com o relatório, somente no ano passado mais de 90 mil pessoas foram envolvidas em situação de conflitos e desse número, 65 pessoas sofreram tentativas de assassinato e outras cinco foram mortas.
Uma quebradeira de coco, que por medo não quis se identificar, afirmou que muitos fazendeiros e latifundiários começam a perseguir as quebradeiras por querer derrubar e desmatar as palmeiras. “Os fazendeiros e os latifundiários, eles desmatam, derrubam as palmeiras, eles seguem a gente, dizem que querem conhecer e ai acabam falando para que cheguem até nós. Somos ameaçadas de morte”, conta.
A coordenadora regional da Comissão Pastoral da Terra, Márcia Palhano, afirma que essas ameaças acontecem principalmente nas comunidades que são alvo de interesse de capital que envolvem grandes hectares de terra. “Isso sobretudo acontece com as comunidades tradicionais quilombolas, quebradeiras de coco, indígenas que são as comunidades que mais são impactadas pelos grandes projetos, pelo interesse do capital das terras nessas comunidades”, explica.
Ainda segundo o relatório, mais de 1,9 mil famílias sofrem ameaças de serem despejadas de suas casas ou terras por forças de jagunços, pistoleiros, fazendeiros ou empresas. Segundo Rafael Silva, advogado da Comissão Pastoral da Terra, o que agrava as ameaças de conflito é a invisibilidade dessas comunidades que geralmente, estão em locais distantes e não tem seus casos divulgados.
“A medida que esses casos são trazidos a público e são levados para as instituições pendentes tanto do estado, as estatais, o Ministério Público, as Defensorias Públicas como as organizações da sociedade civil, isso é na verdade a maior proteção que as pessoas têm. Porque o que agrava a situação de segurança pessoal é a invisibilidade, é o fato dessas pessoas estarem em locais distantes e não haver conhecimento público dos casos”, conta.
Para Horácio Nunes, professor e sociólogo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a lentidão no processo de julgamentos desses casos é um dos fatores que atrapalha o andamento desses processos. “E normalmente aqueles que promovem a violência no campo tem poderes econômicos e políticos, que tem feito com que nosso judiciário se dobre a esses poderes e não cumpram a lei como efetivamente deveria ser”, afirma.