Conheça algumas boas lembrança diz que é de Arari

Por Alex Corrêa

Diz que é de Arari e nunca “discaiu” no Mearim numa aninga ou num caule de bananeira, nem pulou de uma árvore na maré cheia e nem fez da descida no “esmeril” o melhor escorregador de sua infância.

Diz que é de Arari e nunca foi tomar ki-suco com pão no comércio de Seu Diquinho Pereira, nunca foi comprar picolé na quadra do padre, nem bombons e figurinhas de álbuns nas quitandas de Carlos Chaves, Nezoca, Orestes, Vicente ou Seu Raimundo.

Diz que é de Arari e nunca brincou de ganzola, cai no poço, salva a latinha ou de preso nas margens do rio pelos arredores dos quintais de Dona Ivone e Seu Anedino.

Diz que é de Arari, que jogou bola na Rua da Beira e nunca foi ameaçado de ter a bola cortada pelo Seu TB. Diz que é de Arari e nunca confundiu, morrendo de medo, o Seu Baé com o velho do saco que levava crianças peraltas e desobedientes…

Diz que é de Arari e nunca bateu uma pelada no pátio da Rua da Beira, nem jogou o Peladão no quebra dedo, no campo do padre ou no Mintirão… nem se deslocou até o Perimirim, Barreiros, Bonfim pra jogar bola.

Diz que é de Arari e nunca foi à Trizidela pegar manga e até a Rabela pra pegar passarinho, comer pitanga ou sair tubado levando carreira de vaca parida.

Diz que é de Arari e nunca pedalou até Vitória do Mearim, nunca contemplou o pôr do sol sobre a Ponte Itapoã, nem desceu de lá de bicicleta em alta velocidade.

Diz que é de Arari e nunca pulou da ponte do Igarapé do Nema nem atravessou o rio à nado para mostrar pros colegas que era capaz, morrendo de medo de ser atacado pela cabeça de cuia.

Diz que é de Arari e nunca comprou gás no Salim, nunca acordou cedo pra comprar carne no mercado, nunca esperou o carro da COBAL, nem tomou leite porronca e carne de jabá na escola

Diz que é de Arari e, que pena, não chegou a ver a Cotoniére, uma casa de farinha, um engenho e uma torrefação.

Diz que é de Arari e nunca fisgou uma traíra no Igarapé do Arari, não pescou de “bubulho” numa canoa no meio do rio, nem pegou camarão no litro com o fundo quebrado e nunca jogou uma linha no Mearim zoando do colega que não pegava peixe chamando-o de panema.

Diz que é de Arari e nunca se assombrou com a possibilidade de ver um bode diabólico na ponte do Ubatuba, nem nunca voltou de alguma festa à noite com medo de ser perseguido por uma porca enorme que antes era uma senhora velha, negra e pobre…

Diz que é de Arari e nunca tomou banho de chuva, ora correndo na lama, ora nas calcadas se aproveitando das calhas das casas. Diz que é da cidade e não tem a menor ideia do que é ter a casa inundada pela água da enchente, almoçar com água na canela, ter que levantar móveis em girau para não perdê-los… e ainda fazer disso uma alegria brincando com água na cintura com os colegas no meio da rua.

Diz que é de Arari e nunca pegou uma frieira entre os dedos do pé, nunca pegou “sapatão” e acordou chorando ao tentar abrir os olhos com remela seca colando as pálpebras. Diz que é de Arari e nunca teve uma “dor de veado” (rsrsrsr) depois de correr apostando corrida com os amigos.

Diz que é de Arari e nunca saiu de bike na avenida Dr João da Silva Lima e Parque do Folclore pra paquerar as meninas, nem nunca fez um bolão para ajudar dois colegas a se encontrarem e iniciarem um namoro. Ah, diz que é da cidade e não namorou nas praças da igreja, cruzeiro ou do banco ou nas ruas e becos escuros da cidade. Nem nunca ouviu falar do Beco do Rasga Sunga ou do Beco dos nove meses (rsrsr).

Diz que é de Arari e nunca fez o sinal da cruz ao passar na frente da igreja ou de uma capela, ou ao ouvir o ângelus das 18h do autofalante da matriz, nem ficou ansioso ao ouvir as músicas fúnebres ao anunciar a partida de mais um arariense …

Diz que é de Arari e nunca viu ou participou das procissões e novenas do Festejo de Nossa Senhora da Graça e Bom Jesus dos Aflitos… Nem desfilou na semana da pátria com farda tergal do Colégio Arariense ou com roupa social, gravata e luva com uma bandeira sob o sol escaldante do meio dia… nem parou para admirar a performance e as belas curvas das balizas, que eram uma atração à parte nos desfiles…

Diz que é de Arari e nunca participou de encontros religiosos no Salão Santa Terezinha, nem pedalou da sede da cidade até a capela de Santana, Moitas ou outros povoados para participar de retiros religiosos…

Diz que é de Arari e não conhece a história, feitos e obras do padre Brandt … nunca ouviu falar em filhos ilustres como José Fernandes, Biné Abas, Justina Fernandes, Zeca Balero…

Diz que é de Arari e nunca morreu de medo de levar uma reguada pra aprender a cartilha e a tabuada ou de ficar de castigo porque não fizesse a atividade ou não soubesse a lição… Diz que é de Arari e nunca ficou com medo de ir pra debaixo do sino e nunca tremeu nas bases diante do padre Clodomir.

Diz que é de Arari e nunca comeu capadinho e surubim no leite de coco, nem comeu um pirão de farinha puba encharcado no caldo de peixe. Diz que é de Arari e nunca provou um chibé com pimenta, nem fez pique nique no Lago da Morte.

Diz que é de Arari e nunca viu o pipoco de uma pororoca

Diz que é de Arari e não viu no Festival da Melancia a competição pra ver qual lavrador levava o maior e mais pesado fruto, nem viu o prefeito provar uma por uma frutas para decidir quem venceria o concurso da melancia mais doce…

Diz que é de Arari e não viu os blocos Tabajara, Tudo Bem, Barba Azul, nem assistiu à rivalidade entre a Turma do Saco e o Mirim, não viu o desfile dessas escolas na avenida, tampouco dançou carnaval na Dancynema nem no Arari Clube.
Diz que é de Arari e nunca ouviu falar na Noite do Charme…

Diz que é de Arari e não sente nostalgia ao se lembrar dessas coisas.

 

One thought on “Conheça algumas boas lembrança diz que é de Arari

  1. Fiz tudo isso e me deu saudade da adolescência, melhor que a de hoje, onde o divertimento é jogos eletrônicos e rede social, o caro Alex esqueceu da turma do botafogo também rival da turma do saco, do refresco de coco com pão na quadra do padre, da garapa com pão da massa fina no Diquinho Pereira, do refrigerante jeneve no Justino após a missa domingo a noite, da partida de sinuca no mesmo local, além de caçar passarinhos e outras coisas na estrada velha e cafezal.

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