Iemanjá é Festejada em Arari

Praticantes da Umbanda, durante oferenda na Festa de Iemanjá. Rio Mearim, Arari. 2017.

O dia primeiro de fevereiro é de muita concentração e tarefas para os praticantes da religião da Umbanda em Arari, sobretudo para os reunidos em torno do Terreiro Nossa Senhora da Vitória, que tem a senhora Maria Cordeiro, como Mãe de Santo, e o senhor José Manoel Gomes (Pandu), como delegado de Umbanda.

É que no raiar do dia 2 de fevereiro, anualmente, têm início as atividades do dia de celebração de Iemanjá,  orixá do povo Egba, divindade da fertilidade originalmente associada aos rios e desembocaduras, também aclamada como Rainha do Mar ou Rainha das Águas, para os seguidores da Umbanda.

A programação da festa religiosa deste ano tem a seguinte programação: às 7 horas da manhã, na margem direita do rio Mearim, nas imediações da Ponte do Nema, acontece a tradicional Oferenda a Iemanjá, após o que os devotos seguem em cortejo até o Terreiro Nossa Senhora da Vitória, localizado na travessa do antigo Mercado do Peixe (entrada no cruzamento do final da rua Justina Fernandes com a rua João Inácio Garcia.

Por volta das 9 horas, imediatamente após a chegada dos fiéis ao Terreiro, acontece o Salve a Iemanjá, ao toque e dança de Tambor de Mina, até ao meio-dia, quando será servido um banquete aos participantes do evento.

Às 17 horas, as atividades são retomadas com Tambor de Mina até as 21 horas, quando se terá um intervalo, retomando o tambor a partir das 23 horas e seguindo com a festa até o amanhecer do dia seguinte.

Umbanda –  Religião brasileira que sintetiza vários elementos das religiões africanas e cristãs, porém sem ser definida por eles. Formada no início do século XX no sudeste do Brasil a partir da síntese com movimentos religiosos como o Candomblé, o Catolicismo e o Espiritismo. É considerada uma “religião brasileira por excelência” com um sincretismo que combina o Catolicismo, a tradição dos orixás africanos e os espíritos de origem indígena.

Alguns estudiosos referem-se à umbanda como sendo o resultado de uma síntese transformadora, algo novo que se diferencia de todas as vertentes que contribuíram com aspectos culturais em sua formação. Essa religião seria então, um produto direto das transformações ocorridas em um determinado período no contexto da sociedade brasileira (ORTIZ, 1999; OLIVEIRA, 2008).

Tambor de Mina – Os terreiros de Mina são relacionados à linha de cura ou pajelança, onde pais e mães de santo desempenham funções terapêuticas, diagnosticando e curando os clientes vítimas de feitiços, mal olhado, perturbações causadas por entidades espirituais etc. (FERRETI, M. 2000).

Tambor de mina é o nome mais comum dado à religião de origem africana no Maranhão e na Amazônia. Uma de suas especificidades é a realização, dentro dos terreiros, de diversas manifestações da cultura popular, como a festa do Divino Espírito Santo, o bumba-meu-boi, o tambor de crioula e outras. Terreiros de mina e de umbanda no Maranhão realizam festas com tambor de crioula, em homenagem a Preto Velho, no dia 13 de maio e para outras entidades, em outras datas. As festas de tambor de crioula, de pagamento de promessa, se iniciam geralmente com ladainha em latim, seguida por hinos em louvor ao santo cultuado e se continuam por várias horas do dia ou da noite. (FERRETI S, 1995, p. 2)

Iemanjá – No Brasil considerado o orixá mais popular festejado com festas públicas, desenvolveu profunda influência na cultura popular, música, literatura e na religião, adquirindo progressivamente uma identidade consolidada pelo Novo Mundo conforme pode ser observado em suas representações nos mais diversos âmbitos que em sua imagem reuniram as “três raças”.

Cultos afro-brasileiros

No contexto da escravidão, da discriminação racial pós-abolição e da opressão cultural e religiosa, os negros africanos e os afrodescendentes procuraram diversas formas de resistência. Além das fugas e formação dos quilombos, a resistência cultural foi e é de grande importância para que os negros garantissem seu espaço na sociedade maranhense, sendo o Maranhão o segundo Estado com a maior população negra do país, mas com evidentes sociais desfavoráveis que persistem como processo inacabado, segundo afirma Seguins (2001). Essa realidade é semelhante em Arari – MA, onde se têm evidenciadas significativas expressões culturais de matriz africana.

Dentre os elementos culturais da resistência negra no Maranhão, os rituais têm lugar especial, ligados ora ao divertimento ora à religião ou mesmo mesclando ambas as dimensões, com destaque para as batucadas ou tambores, que podem ser compreendidos como simbólica social. Segundo Douglas (1976, p. 80 apud AMORIM, 2001, p. 6), “o ritual é mais para a sociedade do que as palavras são para o pensamento […] é impossível ter relações sociais sem atos simbólicos”.

No contexto do poder simbólico e das representações sociais relacionados ao fenômeno religioso, merece destaque a questão da religiosidade afro-brasileira, sobretudo por se tratar de uma resistência cultural historicamente complexa, e por ser a expressão de uma minoria, estereotipada e marginalizada até então.

Marcado por elementos do catolicismo (europeu), do Espiritismo kardecista, da cultura indígena, utilizou-se do sincretismo como forma de sobreviver diante das pressões históricas e sociais. Assim, firma-se como manifestação religiosa e cultural devidamente reconhecida, mas ainda muito ligada à classe social baixa, ainda vítima do preconceito e da falta de conhecimento da população, que em boa parte, tem uma concepção equivocada a seu respeito.

Dentre os cultos afro-brasileiros, a Umbada surgiu como forma de reorganizar os elementos da religiosidade de matriz africana, que estava em avançado grau de sincretismo, além de se constituir uma importante iniciativa no que diz respeito ao reconhecimento como valor cultural e religioso, no contexto da diversidade cultural brasileira, em que procura fortalecer-se elemento da identidade do negro do Brasil.

A Umbanda em Arari – Além do Terreiro Nossa Senhora da Vitória, na cidade de Arari a religião Umbanda tem expressão em outras tendas e terreiros, tanto na sede como na zona rural do município. Exemplo dessa expressão da religiosidade arariense, são a Tenda de Santa Bárbara, cuja Mãe de Santo é a senhora Deuzeli Fernandes; e os terreiros dos pais de santo Binbé, Edilson de Moitas, Maria das Dores etc.

Além da Festa de Iemanjá, os praticantes da Umbanda, celebram também Santa Barbara, em 4 de dezembro, e contam com outros eventos anuis específicos de cada terreiro ou tenda.

Com Informações do atualidades

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