Opinião: Nomes, livros e voos em Arari

Arari é um pequeno município maranhense com cerca de 30 mil habitantes e distante 165 quilômetros da capital São Luís. Em tupi-guarani, o nome Arari tem um significado poético, pode ser pequena arara ou, ainda, rio das araras. O município é banhado pelo Rio Mearim que, caudaloso e de águas doces, desfila devagar bem atrás da Igreja da Matriz, lembrando a quem chega da cidade grande a necessária calmaria que a vida, às vezes, precisa ter. Na região, um fenômeno da natureza mobiliza os moradores e os convida para a beira do rio: o belo encontro das águas fluviais com as águas oceânicas. Ondas enormes anunciam o início da pororoca.

Em 2018, um projeto feito com a parceria da Fundação Vale, voltado à promoção do livro e da leitura literária, chegou a Arari. Como uma revoada bonita de araras sobre uma grande floresta, os livros foram, aos poucos, chegando e ocupando cantinhos e salas de leitura das escolas públicas do município. Escolas localizadas na área urbana saudaram a chegada do novo acervo. Escolas rurais, de regiões longínquas e de difícil acesso, também saudaram a chegada dos livros literários. Aos poucos, os dias foram se enchendo de histórias fantásticas, histórias de chorar de tristeza e histórias de chorar de rir, histórias com e sem rima, ilustradas ou com algumas poucas palavras. Histórias de povos maranhenses e também de povos distantes, que viveram há centenas de anos. Histórias de mulheres extraordinárias, de grandes sagas, de amores e também poesias, contos e cordéis. Aos poucos, mais educadores estão incorporando na sua rotina da sala de aula a contação de histórias e, com afeto, vêm trazendo para as crianças doces lembranças dos momentos em que as histórias eram contadas nas comunidades, às vezes ao redor da fogueira, por parentes mais velhos, sobre seus ancestrais e outros ensinamentos que atravessaram rios, mares e florestas, ao longo dos anos, e aportaram ali. Nas escolas, olhos e ouvidos atentos se emocionam com as histórias que encorajam a seguir viagem, desbravando outros livros, conhecendo outros mundos – reais e imaginários.

O Rio Mearim assiste tranquilo à bela revoada dos livros em Arari e segue firme em seu leito, sem deixar parar os caminhos. Em silêncio, pensa nos frutos que serão colhidos com a consolidação dessa rede de jovens leitores. Há quem diga que um dos significados do nome Mearim, em tupi-guarani, é “Rio do povo”, tão poético quanto o nome da cidade. O rio e a leitura, ambos do povo. A literatura, um direito inalienável, como dito pelo Professor Antonio Candido, tem feito viver, humanizado, enriquecido a percepção e visão de mundo, ampliado os horizontes de meninos e meninas. Os livros, como o rio, estão enchendo de nova esperança a rede municipal de ensino de Arari.
(O Rotas e Redes literárias de Arari é um projeto realizado pela Secretaria Municipal de Educação, em parceria com a Fundação Vale e a Associação Cidade Escola Aprendiz. A iniciativa entregou cerca de 8100 livros literários, contemplando toda a rede municipal de ensino e está formando os professores em técnicas de mediação de leitura.)

Por Andreia Prestes
Mestre em História pela UFRJ, trabalha com responsabilidade social na área de Educação da Fundação Vale, atuando em projetos de promoção do livro e da leitura. (Com informações Imirante)

1 comentário

  1. José Luiz Fernandes Ribeiro Responder

    O artigo, misturando poesia com informação, revela um momento muito importante, entre os muitos que Arari está vivendo, sob os auspícios de pessoas e entidades comprometidas com nosso desenvolvimento.
    Obrigado à autora pela divulgação e, mais, pela sua participação nesse momento
    E ao companheiro Júlio por partilhar o texto

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