Um tempo do avesso: Padre Clodomir Brandt em Arari

Por José Maria Costa

Foto: Paulo Cesar Ericeira

Ele era assim…
Já tinha os cabelos brancos, que arrepiava-se com o namorar do vento, e o
óculos de aro pesados.
Pelos corredores do Colégio Arariense, quando agitado, andava em passos
rápidos. Mas a sola do sapato era tão macia, que surpreendia alunos e
alunas em algazarra. “ seu bode, vem cá “. Era a expressão mais usada.
Muitas vezes sobrava tapas e “ bolachas” no pé do “ escutador de conversa”
e muita sorte tinha o indivíduo se “ maria pretinha” não lhe afagassem as
mãos.

Tinha nos olhos um misto de azul com verde esmeralda, e com eles mirava
toda a classe por cima. Foi brabo nas décadas de 50,60 e até metade da
década de 70. Depois amansou-se, reencontrou-se, com a experiência de vida,
e passou a fazer literatura. Como escritor, um gênio de pensamentos
filosóficos. Foi um idealista, à frente de uma Arari necessitada e carente
de quase tudo. Desta bebeu o doce sabor do poder e provou do sabor amargo
das decepções, gosto que só aqueles que esquecem os retrovisores da vida
sente, degusta, e segue em frente, afinal, a vida é um tecer constante de
imaginação e sonhos.

Influenciava no comportamento dos alunos do Colégio Arariense, interno e
externamente. Vejamos, o melhor bar nas redondezas do Colégio, era o
Palhoção, ali, nenhum aluno ousava adentrar uniformizado com o distintivo
do Colégio Arariense para “ jogar bilhar “, senão, ao chegar na escola
prestava-lhes conta. No mínimo uma suspensão.

Quando estava embestado de “ piti “, colocava todo o Colégio Arariense em
fila indiana, postava-se em
pé, e todos os alunos passavam em revista por ele erguendo a barra da
calça, e mostrando – lhe a meia preta, prova que o fardamento estava em
ordem. Ali, era retido quem não estava com o fardamento completo, ou o
uniforme não adequado ou apaisano.

Depois que todo o Colégio passava em revista, os retidos para permanecerem
dentro do prédio, tinha que confessar, do porque estava, digamos assim,
descaracterizado.

Para adentrar no Colégio Arariense, aquele sino, fazia barulho, as 7:30,
para alunos da manhã. Às 13:15 para os da tarde e as 18:00 hs para a “
santíssima “ galera da noite.

Este bendito sino, também servia de terapia, para alunos rebeldes, tinha
que ficar debaixo dele, até a boa vontade de Clodomir reinar. Claro, nenhum
aluno ia para debaixo do sino, porque estava rezando.  Por exemplo, este
que vos escreve, ficou uma semana debaixo daquele penduricalhos, porque
raspou a carteira ( banco de sentar ) e melou toda de tinta de caneta, dei
sorte,  não ter levado umas “ bolachas no pé da orelha. Na verdade, era 01
semana, o castigo, no terceiro dia dona Concir, perguntou se eu estava
arrependido, respondir que sim. Ela mandou eu voltar para a classe. Era
estudante da Quarta série do Primário, ano 1974.
Ah, tempo bom, saudades e muitas saudades.

Tempo bom, tempo de travessuras e felicidades.
Clodomir era esportista, gosta de futebol. Houve um tempo que ARARI, tinha
apenas 01 Quadra de Futsal. A Quadra do Padre. Toda juventude ia pra lá.
Uma lanchonete com grife. A lanchonete da Quadra do Padre, sob o comando
dos eternos Miguel e Dico Silva, regada com refresco de côco, bananada e
abacatada, e muita alegria juvenil. A noite, aquele espaço era o Point, da
juventude de Arari.
Padre Clodomir, eu sinto saudades de você !

O clássico colegial, sempre foi, Colégio Arariense e Colégio Comercial, era
como se fosse o Fla x Flu,
ou Corinthians e Palmeiras. Era um clima de festa, futricas e fofocas na
Cidade. Era o jogo.

Houve um tempo em que Arari, só tinha um campo de futebol, sim, o campo do
Padre. Só tinha um jornal. O jornal ‘ Notícias ‘ do Padre. E nós que temos
o juízo no lugar, sabemos que existe uma ARARI, antes do padre Brandt, uma
ARARI do padre Brandt, e está de hoje, que colhemos os frutos do que ele
plantou.

Do profissional do Direito, a políticos, jornalistas, escritores, músicos,
compositores, Maestros, e os pessoas comuns, se esteve ou passou por Arari,
bebeu do Saber de Clodomir Brandt e Silva.

Muitas vezes saía a caminhar a pé por Arari, usando chapéu ou com o seu
guarda sol preto.
Era centralizador, mas bastava convencê-lo com argumentos cabíveis que ele
cedia. Montou um Teatro em Arari. E ali, montei a minha primeira peça para
o teatro “ Castigo Dividido “. Ou melhor, com o quê o padre Clodomir, não
contribuiu em Arari ?

Neste 2017, ano que celebra-se o Centenário do
seu nascimento, é importante que cada um de nós arariense, refletimos o
quanto esse Colinense, de Colinas, enobreceu o nome ARARI.

Nunca quis promoção eclesiástica para não ter que ir embora de Arari, e por
isso, e mais que por isso, por tudo que fez. Olha, qualquer homenagem que
prestarmos a Clodomir Brandt e Silva, cá entre nós, é pouca, por tudo que
ele fez e pelo legado que deixou a cada um arariense.
Se formos escrever sobre o padre Clodomir, teremos muito a derramar tintas
sobre papel.
Ah, o seu corpo repousa no interior da igreja Matriz de Arari.
Padre Clodomir Brandt e Silva, eu sinto saudades de você.

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